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A COVID-19 representa uma experiência traumática, que se caracteriza por sua natureza imprevisível e mudanças no estilo de vida. Estudos anteriores relataram distress em pacientes hospitalizados infetados com SARS-CoV-2, nomeadamente ansiedade, depressão e sintomas de stresse pós-traumático (PTSS). As experiências stressantes também podem contribuir para o desenvolvimento de pensamentos ruminativos associados a sintomas de depressão e ansiedade. A experiência de hospitalização devido à COVID-19, por sua vez, pode contribuir para o desenvolvimento da perturbação de stress pós-traumático (PTSS), ansiedade, depressão e sentimentos de solidão, que estão associados a uma pobre qualidade de vida (QV).
O processo inflamatório que contribuiu para a doença COVID-19 pode comprometer as funções cognitivas, mesmo em pacientes que apresentam valores de proteína C reativa (PCR) indicadores de recuperação. As experiências de stresse crónico têm uma resposta inflamatória semelhante à observada em pacientes hospitalizados com COVID-19. A resposta hiperinflamatória ao SARS-COV-2 também pode contribuir para a degradação da barreira hematoencefálica, o que pode prejudicar a função cognitiva. O SARS- COV-2 pode invadir o SNC, usando recetores dopaminérgicos (RD) para entrar e aumentar a sobrevida do vírus. A COVID-19 pode causar alterações nas secreções de DA e serotonina, contribuindo para o dano cerebral e menor QV, indo ao encontro do Modelo de Stress e Envelhecimento Cognitivo que postula que os eventos ruminativos e PTSS contribuem para o declínio cognitivo mediados pela desregulação fisiológica.
Até à data, nenhum estudo na COVID-19 abordou o impacto da resposta inflamatória e das vias dopaminérgicas na função cognitiva e QV. Este projeto visa compreender o mecanismo fisiopatológico e os determinantes do declínio cognitivo, definindo perfis de risco em pacientes com COVID-19. Especificamente, pretende-se avaliar como os pensamentos ruminativos e PTSS podem afetar a função cognitiva e ter impacto na QV, em pacientes que receberam alta hospitalar recente (últimos 6 meses, 12 meses e 24 meses).
Os pacientes serão avaliados nas variáveis sociodemográficas, clínicas e psicológicas (PTSS, morbilidade, solidão, satisfação com a vida, crescimento pós-traumático, função cognitiva, QV) e parâmetros bioquímicos (marcadores inflamatórios e vias dopaminérgicas).
Uma vez que um terço dos pacientes graves com COVID-19 podem apresentar complicações a longo prazo e maior risco de morte prematura, os resultados deste podem identificar novos alvos terapêuticos (RD) e comorbidades psicológicas relacionadas (perfis de risco de declínio cognitivo) em que os circuitos dopaminérgicos são afetados a fim de melhorar a QV, prevenir o declínio cognitivo e diminuir os custos elevados associados á infeção por SARS- COV-2.
